E fica sempre a dúvida: “como inventar um adeus? ” Ou, como seguir em frente quando tudo que a gente queria era permanecer, ver dar frutos, florir?
A gente sempre imagina que plantou flores em solo fértil, e chora em silêncio quando percebe que farto era só o nosso desejo. A gente sempre vai ter um pouco de saudade daquilo que ficou por viver. Das histórias que a gente construiu no coração, mas que não sobreviveram para virar realidade. Dos sonhos que a gente plantou, mas não tiveram força para se tornar verdade.
De vez em quando é essencial fazer pactos com o adeus. Cortar pela raiz mesmo ferindo e doendo. Aceitar a morte de um tempo, tolerar a decisão de seguir adiante sem a companhia escolhida e permitir a ferida da despedida.
O adeus também é feito de corações que se amam, de almas que se entendem, de rios que correm lado a lado.
É preciso força para não sangrar. Para entender que a paz do encontro foi trocada pela inquietação da despedida; para aprender a ficar em silêncio quando muita coisa já foi dita; para recolher-se em cuidado e proteção; para permitir-se ser curado com colos e abraços de mãe ou de amigos; para aceitar carinhos em forma de chocolate quente; para aprender a respirar sem dor; para novamente florescer sentindo amor.
A gente tem que entender que certas feridas irão existir para sempre, não importa quanto tempo passe. A boa notícia é que param de doer. Mas a cicatriz permanece lá, como um lembrete de que fomos modificados para sempre.
Um dia a gente olha para trás e entende que a vida também é constituída de finalizações e despedidas. E que isso faz parte do que somos também. Pois o bonito da existência é perceber que nascemos diamante bruto, e que o tempo permitiu que fôssemos lapidados com alegrias e tristezas, começos e términos, crescimento e poda, realizações e saudades…
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